29/03/2018 às 14:13

Retratos de Família

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Como era bom sentar no chão e folhear álbuns e mais álbuns, fotos 10x15 reveladas avulsamente e colocadas empilhadas em caixas e mais caixas! Você já fez isso? Possivelmente era comum na sua infância. Na nossa era praticamente um hobbie! Momentos assim eram sempre a oportunidade de conhecer familiares; ver como eram os avôs quando jovens; dar estridentes gargalhadas; apontar para o irmão e dizer o quanto ele era “esquisito”; entrar em pane com o estilo da roupa que usávamos (#brega rs); perceber as mudanças que foram ocorrendo no nosso perfil estético (porque de beleza, só o nome rs).

Interessante ainda, além de ver a foto, era entender o contexto em que foi tirada. Um exemplo clássico aconteceu comigo. Quando mais nova decidi que queria ver as fotos do casamento dos meus avós, e perplexa eu descobri que ambos tiraram apenas uma foto três dias após o casamento, em outra cidade km de distância da cidade  de onde moravam, no estúdio de um senhor japonês, e que tiveram de levar em uma bolsa o vestido de noiva, sapatos, o terno, o buquê falso e os acessórios que foram usados na cerimônia. De quebra, descobri também que serviram churrasco e refrigerante quente na recepção, pois naquela época não tinham geladeira ou freezer. Não é interessante? Eu sou apaixonada nessa história!

Outra história real parte dos avós do Thiago. As fotos do casamento deles foram tiradas e só conseguia-se ver por um monóculo. Se nunca viu um monóculo, eu indico pesquisar, porque é surreal! A foto é tão minúscula, mas tão minúscula que só consegue enxergar através daquele. Por sorte eles conseguiram ampliar e hoje têm duas fotos 10x15 reveladas. Uma das ampliações conseguiu deixa-los nítidos, porém a outra ficou desfocada. No casamento deles, a avó chegou de jeep para a cerimônia e que o sonho dela seria ter a foto que retratasse aquele momento, mas infelizmente não foi tirada. Ela fala com tristeza dessa “falha” até os dias de hoje. Este ano eles comemorarão 50 anos de casados e, mesmo assim, ela não consegue esquecer desse fato. Está entendendo a importância de uma foto? Ela tem na memória a cena, mas fisicamente não há nada que remete àquele momento único, literalmente.

A cerca de duas décadas atrás não eram todas as pessoas que tinha condições de ter uma câmera fotográfica ou celular com câmera. Eu fui uma dessas. Digamos que era um luxo para poucos. Hoje a realidade é diferente, o sistema está democratizado e a oportunidade de compra alcança boa parte das pessoas. Neste sentido, é indubitável que a “era digital” disseminou-se, tomando de conta das escolas, dos lares e até da infância.

A chegada dos smartphones revolucionou o mundo tecnológico-fotográfico. Antes, se para registrar um momento especial você se esforçada, consoante as condições financeiras, para contratar um fotógrafo profissional, hoje, se o celular tiver uma câmera, e nem precisa ter 12 MP como o iPhone X, é o suficiente.

Com isso, os nossos aparelhos estão sempre abarrotados de fotos, muitas vezes lembranças de momentos especiais que com o tempo, sem a devida atenção, apagamos quando decidimos fazer um backup ou simplesmente porque a “memória” está cheia.

Os álbuns, com fotos reveladas e coladas em “cadernos com película”, hoje deram espaço para os álbuns criado nas redes sociais, facebook e instagram.

Uma pergunta retórica para você: As suas memórias para o futuro, onde estão guardadas?

Outra questão bastante comum na minha infância era a quantidade de quadros espalhados pela casa. Também era uma excelente oportunidade de voltar ao passado. Eu lembro que na fazenda dos meus avós tinha um quadro em que estava minha mãe e meus tios, ainda pequeninos e, todas as vezes que eu tinha a oportunidade de ir até eles fazer uma visita, ficava minutos observando aquele quadro parecendo uma tela, preto e branco, 60x90, sem vidro e sem moldura. Era a oportunidade que eu tinha para observar a minha mãe, ainda criança, e compreender de onde vinham as semelhanças e os traços. Hoje, dificilmente vemos fotos revelada no lar de familiares, ou mesmo em nossos lares. Se tornou uma prática em desuso.

Neste diapasão precisamos fazer uma introspecção e respondermos para nós mesmo o porquê deixamos desfalecer práticas que eram tão comuns e saudáveis?! Talvez seja a modernidade; a vida acelerada que não nos proporciona espaço para isso; a chegada de novas tecnologias interativas; a falta de hábito; o desinteresse. Seriam “n” respostas, a depender do seu contexto e da sua ligação com a fotografia.

Os nossos ouvidos, tanto os meus como os do Thiago, estão viciados em ouvir: “eu me arrependo de não ter tirado fotos; eu me arrependo de não ter contratado fotógrafo para o meu evento; eu me arrependo porque fiz as fotos do primeiro filho, mas do segundo deixei a desejar; eu me arrependo, eu me arrependo, eu me arrependo...”

Saber o valor da fotografia pode antecipar milhares de arrependimentos. Entender o poder de uma foto para as gerações futuras é deixar uma história, uma herança. Quantos livros autobiográficos você conhece que não apresentam fotos? Dificilmente encontrarás, porque a foto faz com que o leitor assimile melhor o contexto apresentado na escrita e, consequentemente, a absorção da história.

Neste sentido, seja também o escritor de sua própria autobiografia. Entenda o valor da foto, da sua foto. Comece hoje a resgatar momentos importantes através das lentes, sejam suas, sejam de profissionais especializados. Porque o importante, sobretudo, é não deixar escapar momentos que podem ser vistos e revividos daqui a 10, 15, 50 anos para a frente, pois, se ao escrever eu pude ressuscitar diversos momentos maravilhosos em minha mente, imagine na prática, sentada e rodeada de um milhão de fotos impressas ou álbuns? (suspiros...)

Eu te aconselho hoje a sentar com a família, pegar fotos guardadas e contar aos seus filhos e sobrinhos sobre a sua história. Vamos resgatar juntos esses momentos?

                                                                                                                                                                                  Camylla Cerqueira

29 Mar 2018

Retratos de Família

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